A Idade Média, período que se estendeu do século V ao
século XV, ficou para sempre conhecida como os mil anos de escuridão. Então, a
revolução industrial trouxe a modernidade aos nossos dias; a eletricidade iluminou
as nossas casas e a comunicação digital aproximou mundos distantes, deixando
toda espécie de conhecimento ao alcance de um teclado. Mas, representamos uma
parcela tão pequena do universo e vivemos rodeados de tantos problemas que,
muitas vezes, nos sentimos impotentes, nos esquecendo do potencial criativo e
transformador que existe dentro de cada um de nós.
Galileu com sua genialidade explorou o espaço até
conseguir reposicionar os astros no céu e modificar o movimento relativo entre
eles. Contudo, para isso precisou desenvolver e aprimorar seus próprios
instrumentos; lunetas e telescópios. No entanto, sua façanha quase nada
representa diante do universo que existe para ser explorado por nós em nossas
próprias mentes. Pois, somente a partir das descobertas dessa exploração
pessoal e científica, poderemos assistir o surgimento de uma nova sociedade.
Mas, infelizmente, isso ainda se apresenta como uma conquista inimaginável,
improvável e até mesmo “impossível” para a maioria das pessoas, assim como era
visto o universo heliocêntrico proposto por Galileu, mas que graças a muito
trabalho, imaginação e determinação, derrubaram com séculos de cegueira e
rigidez de várias gerações. Hoje, o instrumento mais poderoso que temos para
explorar o nosso potencial e realizar novas conquistas é o próprio
“conhecimento”. Ele é a luneta moderna que nos possibilita enxergar através da
realidade subjetiva que cristaliza boa parte da sociedade. É o combustível que
pode impulsionar e dar energia a cérebros e mentes que vagueiam pelas ruas e
avenidas dos centros urbanos, como exploradores e viajantes cansados de
trabalhar, sonhar e olhar para o céu na esperança de encontrarem novos mundos,
caminhos e oportunidades para serem felizes. Contudo, conhecimento sem
sabedoria pode se transformar em uma ferramenta inútil ou em uma arma perigosa,
quando em mãos e mentes despreparadas; é como tecnologia fora de época; é como
um computador para o homem das cavernas. O conhecimento não deve afastar as pessoas,
diferenciá-las ou humilhá-las. Sua função é justamente o oposto, ou seja,
aproximar as pessoas, física, cultural e emocionalmente, beneficiando a todos.
A falta de
cultura nos expõe aos vexames, aos prejuízos materiais, pessoais e econômicos.
No entanto, a falta de sabedoria em usar o conhecimento que adquirimos pode nos
expor e nos condenar ao cárcere da soberba, da inflexibilidade, da arrogância,
da prepotência e de muitas outras prisões do ego. Os que permanecem trancados
nesse pequeníssimo mundo paralisam a capacidade de expansão do universo de suas
mentes, sendo impedidos de enxergar novos horizontes. Em suma, o conhecimento
protege o homem de seus semelhantes. Mas, somente a sabedoria o protegerá de si
mesmo. Somos os principais personagens em toda trama social, e nossas atitudes e
palavras influenciam a plateia a nossa volta, construindo ou destruindo
pessoas. Devemos estar conscientes que ao representarmos os nossos papéis
sociais de pais e filhos, professores e alunos, críticos e criticados, simples
cidadãos ou líderes, estamos sendo vistos e nos tornando modelos para as
gerações futuras. Nossas atitudes, por mais insignificantes que possam parecer,
ecoam silenciosa e infinitamente através dos tempos, influenciando e
transformando o mundo, da mesma forma como uma simples lente e o olhar de
alguém direcionada para o alto, um dia mudou toda configuração do universo a
nossa volta.
Texto do livro Sempre Existe uma Saída de J. Edir Bragança