Tudo começa com uma simples leitura, talvez um simples
recorte ou folha de papel, com as leituras e aprendizado, você vai tomando
gosto, vai se encantando com o mundo da escrita, afinal, como pode um simples
texto encher nossos olhos de lágrimas, tocar nossos corações, preencher nossa
alma, revelar-se enquanto descoberta pelo simples fato de eu ter aprendido e
apreendido algo com lições que se faziam presentes ali, tão sublimadas,
encantadas, delineadas, uma sensação única de proximidade com a minha
realidade, aquela, tão próxima, vivida no dia a dia, no sol a sol, nas noites
ensolaradas que se disfarçam por entre a lua e as estrelas cintilantes que,
além de brilhar, também encantam os olhos de quem as observa.
Você começa a mudar sua forma de pensar, toma gosto, começa
a ver os acontecimentos da vida real como a mais linda encenação divina,
sublime que, às vezes, parece eufórica, noutras, triste, uma dramaturgia que
encanta, pois assim são as pessoas, nos encantam, nos abandonam, nos deixam,
nos seguem, perseguem, fazem, enfim, nossas vidas ter um real sentido, sentido
este pelo qual resolvemos continuar vivendo. É um modo de ver único, quase
surreal, não porque somos mais ou menos que o outro, mas simplesmente pelo fato
que cada um de nós somos únicos, diferentes, armados ou desarmados de forças
para continuar vivendo.
Talvez os olhos de quem tanto nos encanta seja a mais forte
razão para estarmos aqui, fazendo o que estamos fazendo, seja chorando,
sonhando, lutando, nascendo ou até mesmo morrendo, pois esta razão nos
fortalece, seja nosso ego, nosso instinto, nossas frustrações, amor próprio e,
quando eu falo de morte não estou me referindo somente de corpo, mas também de
espírito, é preciso uma razão para continuar lutando, encenando nesse mais
lindo palco de teatro que é a própria vida, a vida, razão de lutar, ser, estar.
E quando eu falo que me encantei, também afirmo que me
desencantei, é o desencanto da perda, da falta, da dor que, muitas vezes,
parecem tornar nossas vidas algo inútil, sem sentido, sem razão para estarmos,
simplesmente, aqui. A gente pede ao outro calma e compreensão, mas, muitas
vezes, não conseguimos nos manter calmos e compreender nem a nós mesmo. É uma
dicotomia, viver, morrer, maltratar, perdoar, ser, estar, sorrir, chorar...
essa dicotomia vai tomando conta de meus pensamentos porque eu quero, mas não
posso, eu preciso, mas não tenho, eu sei, mas não posso revelar, enfim, somos
uma infinita dádiva divina capaz de fazer chorar o mais bravo dos homens. Mas,
essa dádiva divina não apenas encanta, ela faz chorar, nos arranca lágrimas e
lágrimas, o que só mostra o quanto somos frágeis, sensíveis, imperfeitos, pois
este não é, de fato, um defeito, isso nos faz, sim, seres mais que perfeitos,
uma perfeição fragmentada, indefinida, com contornos embaraçados, fugidios,
assim somos, uma dádiva divina.
Eu queria fugir, sair, enfim, ir..., não sei pra onde, estou
aqui, me afeiçoando a palavras incertas, talvez tortas, faço-me poeta, desviando-se
de recordações fugidias, mas porque desviar-se de fragmentos se, na verdade,
nossas memórias são, de fato, recordações que vem e vão, dia a dia, instante a
instante, como diz o nobre poeta que se esforça em, nada mais, descrever suas
recordações mortas. Até mesmo o mais
simples acontecimento do dia se transforma em algo simbólico, glorioso,
meticuloso, brilhante, ofuscante, embaraçado, escuro, claro...
E o poeta faz-se despercebido, não, são seus olhos, ele está
indo ao encontro da luz, um encontro que você talvez jamais tenha vivido, ele
está, simplesmente, refletindo, tentando despir palavras, vestir seres imaginários,
desnudando experiências únicas, talvez você nunca entenda o olhar de um poeta
porque, de fato, não suplicamos compreensão, mas a sua atenção, atenção esta
despida em forma de palavras, não há razão
de pedir súplicas, pra quê suplicar, se de palavras ele te encanta e é capaz
até mesmo de fazer-te chorar.
Bem aventurados os que conseguem enxergar o que há por trás
do discurso de um poeta, pois estes serão consolados, serão induzidos ao mais
alto grau do prazer sublime, o prazer que só ele poderá te conceder, dizer,
transparecer, um prazer meticuloso, contado só pra você, como um segredo, uma
experiência do nosso viver.
Que levante o dedo aquele que não guarda um segredo, é como
espiar, bem fundo na alma humana adentrar, e o poeta vai-te contando, você vai
escutando, apreensivo, coisas ocultas ele vai revelando, espiando pelo buraco
da fechadura, de uma porta secreta, é um trabalho silencioso, ocioso, maduro,
imaturo, comum, usual, banal... o poeta despe sua alma em forma de palavras,
faz você viajar no universo imaginário, é preciso ler para, enfim, esse universo
desbravar porque não há nada melhor que permear o desconhecido, tem perfume,
cheiro de incenso, sente? É preciso sentir, saber ouvir.
Por isso, aconchegue-se em seu sofá, abra um livro de
histórias, há um mundo todo colorido para desbravar, é preciso viajar. Ah, não
precisa fazer suas malas, avante marinheiros, sejamos fortes, persistentes, não
sabemos, de fato, qual será o caminho, se haverá terremotos, maremotos,
maresias, aconchegue-se em seu sofá e se prepare para velejar, há muito que desvelar.
Boa viagem.
Andréia Franco
Aparecida de Goiânia,
23 de abril de 2015.
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